
Entre 2012 e 2018 houve um debate muito amplo na mídia sobre casos de espionagem na Alemanha. Em 2013 a Chanceler alemã, Angela Merkel, disse uma frase que ficou famosa: „Ausspähen unter Freunden, das geht gar nicht“ ou seja, „Espionar entre amigos não vale“.
Toda a mídia, políticos, empresários, confederações da indústria, camaras de indústria e comércio e até meros cidadãos nas ruas falavam da tremenda injustiça que outros países cometiam contra a Alemanha. A Alemanha literalmente se colocou em posição de vítima para se defender e apontar com o dedo (sujo) para os outros. A mídia e os experts que falavam em público um tanto enojados com a maldade que estavam cometendo contra a Alemanha em nenhum momento se referiram a uma caracteristica bem alemã: a espionagem.
A mídia começou a publicar casos de espionagem dos EUA, da Rússia, da China, etc. na Alemanha. Na Wikipedia foi publicado uma lista com todos os casos de espionagem contra a Alemanha desde a guerra fria, 1945 >>>.
Maior sucesso de espionagem do serviço secreto alemão (BND) depois que o III Império foi extinto pelas forças aliadas: Operação Rubikon

Fonte: ZDF, Operation Rubikon
Em Fevereiro de 2020, como se o podridão da operação comum de espionagem do serviço secreto alemão e dos EUA – Operação Rubikon (1970 até 1993)- não pudesse mais ser contido, o caso veio a público em Fevereiro de 2020 e foi amplamente divulgado até Abril de 2020, e desde Maio de 2020 quase nada mais foi publicado sobre o assunto. A Operação Rubikon é tida como o maior sucesso de espionagmen do serviço secreto alemão. Mais de 130 países foram espionados por décadas, até o Brasil foi amplamente espionado pela Alemanha e pelos EUA.
A Alemanha uma santa em têrmos de espionagem?
O professor alemão de economia política, Dr. habil. Harry Nick, escreveu um artigo no jornal Nova Alemanha (Neues Deutschland) em que ele afirma que o publicitário estadunidense Peter Schweizer relatou em seu livro „Friendly Spies“ que „o BND encomendou agentes disfarçados para espionar instituições e empresas de pesquisa nos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Itália.“ Ainda segundo ele, „a Alemanha [é o país que] menos tem razão para fazer declarações moralizantes sobre espionagem. O maior caso de espionagem industrial foi o roubo de todas as invenções importantes da primeira revolução industrial pela Prússia/Alemanha na Inglaterra, berço de todas as tecnologias-chave do início da era industrial: sobretudo a máquina a vapor, a máquina de fiar e o tear mecânico.“
No dia 23.08.2022, ou seja, hoje, a WDR, membro da rede pública de TV alemã, publicou um artigo em comemoração à primeira locomotiva a vapor da Prússia/Alemanha, que entrou na ativa em 22.08.1785. Neste artigo a WDR escreve que o rei prusso, Frederico – O Grande, enviou um engenheiro (Karl Friedrich Bückling), sua pessoa de alta confiança, para a Inglaterra com uma ordem especial para realizar espionagem industrial na empresa Boulton & Watt. O rei prussiano estava de olho na máquina a vapor dos inglêses. Por isso Bückling tinha a incubência secreta de espionar o princípio da máquina a vapor inventada por James Watt para replicá-la na Alemanha. O espião alemão trabalhava disfarçado de esquentandor de forno de carvão nesta fábrica inglêsa e ele conseguiu roubar desenhos da locomotiva inglêsa. Mas a construção do trem alemão foi de má qualidade, o cilindro para o vapor do trem era mal refrigerado. Após um curto período de tempo funcionado, a caldeira explodiu. Bückling, o espião alemão e homem de confiaça do rei Frederico precisou voltar para a Inglaterra e espionar mais e melhor para que a Alemanha obtivesse sucesso no seu avanço industrial.
Segundo a jornalista alemã, Johanna Lutteroth, num artigo seu na página Narkive Newsgroup Archive (data: há 10 anos), durante a revolução industrial, os empresários alemães olhavam para a Inglaterra com inveja. Os britânicos desenvolviam uma sensação técnológica após a outra. Era a hora dos espiões industriais alemães entrarem em ação. Eles contrabandiavam know-how para o a Alemanha de maneira as mais aventureiras possíveis.
Segundo o professor H. Nick o estado inglês, que montou o primeiro escritório de patentes moderno em 1624, proibiu rigorosamente o licenciamento, a emigração de mestres da indústria e até de operários para evitar que as inveções inglêsas fossem copiadas. Na Alemanha, a revolução industrial começou somente meio século mais tarde do que a inglêsa. A Alemanha se apressou em roubar as tecnologias-chave da Inglaterra. Os britânicos dificultaram a entrade de estrangeiros ao país, principalmente alemães, pois a fama de serem espiões se espalhou no país. Somente aqueles que pudessem comprovar as melhores credenciais ou cartas de recomendação de mais alta autoridade ainda tinham a chance de ver uma fábrica por dentro. A porta de entrada do país era batida na cara do resto que queria entrar sem altas credenciais. Somente com manobras enganosas os alemães alcançavam seu destino no país das novas tecnologias.

Foto: Wikicommons/Willi Geiselmann/CC BY-SA-3.0
Num estudo do Gabinete Federal para a Proteção da Constituição (Bundesamts für Verfassungsschutz (BfV)), a Rússia e a China são apontadas como os “principais mandatários” de espionagem industrial contra a Alemanha. Porém, não tocam nem mesmo com uma frase sobre atividades de espionagem por parte da Alemanha. O jornalista norte-americano Peter Schweizer em seu livro “Friendly Spies” relata o seguinte:
“Desde meados de 1960 a Alemanha esteve particularmente ativa no campo da formação de inteligência econômica e espionagem. O BND contratou informadores para espiar instituições e empresas de investigação nos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Itália.” – pág. 145. „Para traçar a evolução da Alemanha para um programa sustentado de formação de inteligência econômica sobre os seus concorrentes através da espionagem econômica, é preciso ir ao passado, ao início da década de 1950, início da década de 1960 e à experiência de Bonn com a administração do país pelas forças aliadas.“ – pág. 146.
Em um especial sobre a Operação Rubikon, o canal estatal de TV alemão YDF descreveu a Operação Rubikon da seguinte forma:
„Durante décadas, o BND e a CIA espionaram as comunicações criptografadas de mais de 100 países [inclusive o Brasil]. A Operação Rubicon foi mantida em segredo até hoje. É considerada o maior sucesso do BND.“
O maior espião de todos os tempos – a Alemanha
„Ainda hoje a Alemanha continua sendo a campeã mundial de espionagem industrial de todos os tempos, porque tal façanha [de tão grande que foi] não tem como ser repetida“.
Prof. Harry Nick
O Professor Dr. habil. Harry Nick foi chefe da área de pesquisa „Problemas econômicos e sociais do progresso científico e técnico“ do Leibniz Institute for Economic Research da Universidade de Munique e.V. e trabalhou nessa função até 1990. Ele faleceu em 07.12.2014 em Berlim.
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Fontes literárias:
BND und CIA sollen jahrzehntelang mehr als 100 Länder abgehört haben, https://www.spiegel.de/ausland/operation-rubikon-bnd-und-cia-sollen-jahrzehntelang-mehr-als-100-laender-abgehoert-haben-a-28b37eb3-4287-484d-9ddf-d7efc4bb5902, data da publicação , data da consulta na internet 23.08.2022
Monopolisiertes Wissen, https://www.nd-aktuell.de/artikel/215705.monopolisiertes-wissen.html, data da publicação , data da consulta na internet 23.08.2022
WDR: 23. August 2005 – Vor 220 Jahren: Preußens erste Dampfmaschine in Betrieb, https://www1.wdr.de/stichtag/stichtag1388.html, data da publicação , data da consulta na internet 23.08.2022
„Preußens Plagiare“ (Industriespionage!), https://de.sci.physik.narkive.com/W5xReCyh/preuszens-plagiare-industriespionage, data da publicação „10 anos atrás“, data da consulta na internet 23.08.2022
Operation Rubikon, ZDF:

High School in 1949 [url=http://en.wikipedia.org/wiki/Chuck_Feeney]http://en.wikipedia.org/wiki/Chuck_Feeney[/url] .