Brasileiras e brasileiros, meus conterrâneos de pátria amada Brasil,
desde a promulgação da Constituição de 1988, chamada de “Constituição Cidadã”, muito se prometeu em nome da democracia, da justiça social e da construção de um Estado verdadeiramente comprometido com o bem comum. No entanto, passadas mais de três décadas, o que se vê é um acúmulo de frustrações, escândalos e desigualdades alimentadas justamente por aqueles que deveriam proteger e representar o povo: os Três Poderes da República.
Em 2013, muitos brasileiros despertaram para o intolerável nível de corrupção que se consolidava por meio das brechas deixadas pela Constituição e por códigos legais que, longe de servir à justiça, protegeram privilégios. Em 2020, essa indignação foi renovada diante de novas evidências de má gestão, impunidade e desrespeito institucional. E, mais recentemente, os eventos de 08 de janeiro de 2023 revelaram o tamanho da tensão acumulada entre a população e as estruturas do poder.
Gerações esmagadas pelas crises
Somos filhos, netos e bisnetos de brasileiros que foram sistematicamente atingidos pelas consequências de decisões políticas irresponsáveis, desde os anos 1960. A cada nova crise econômica, o peso recaiu sempre sobre os ombros do povo — perda de empregos, inflação, miséria, recessão, desigualdade. Mas os altos escalões dos Três Poderes, curiosamente, sempre se mantiveram ilesos. Em vez de cortes e sacrifícios, viram seus salários reajustados acima da inflação, acumularam benefícios, aposentadorias privilegiadas e legislaram em causa própria com impressionante eficiência.
Um sistema que pune quem o sustenta
Enquanto a maioria do povo é sufocada por tributos, burocracia e serviços públicos precários, os ocupantes de cargos de confiança continuam ampliando seu poder sob a proteção de um Direito moldado por e para eles. Juízes que vendem sentenças são aposentados com vencimentos integrais. Conselhos de contas são ocupados por pessoas sem qualificação técnica, mas com fortes ligações políticas. Leis são criadas e aplicadas não para melhorar a vida da população, mas para blindar os poderosos.
Quando a população, já exausta, reage — ainda que de forma equivocada ou desesperada —, é imediatamente rotulada como “terrorista”. Mas o que dizer de décadas de omissão, corrupção e má gestão promovidas por quem deveria garantir os direitos constitucionais? Como chamar de “ordem democrática” uma estrutura que só serve aos que estão no topo?
Democracia não é apenas legalidade — é justiça
Legalidade e legitimidade não são sinônimos. Uma Constituição que permite privilégios indecentes, protege corruptos e marginaliza o povo pode até ser legal, mas não é legítima no espírito democrático. A verdadeira democracia se constrói com justiça, igualdade, transparência e responsabilidade — não com castas protegidas pelo Direito.
Até quando o povo pagará esse preço sozinho?
Esta carta não é um ataque à democracia — é um apelo por sua reconstrução. Os brasileiros não querem ruptura, querem respeito. Querem instituições que sirvam ao povo, e não o contrário. Querem que os Três Poderes estejam à altura do nome que carregam, com ética, sobriedade e senso de responsabilidade.
Que esta geração tenha a coragem de fazer as perguntas que tantas outras engoliram em silêncio:
Quem nos protege daqueles que dizem nos representar?
Quem julga os que estão acima da lei?
Quando é que a democracia deixará de ser apenas uma promessa?
Com indignação, mas também com esperança,
Um brasileiro entre milhões que ainda acreditam que é possível mudar.
Adalberto Vasconcelos de Araújo (sobre o autor)