Mas, como minha intenção é escrever algo útil para aqueles que compreendem, parece-me mais adequado ir à verdade real das coisas do que à sua ideia; e muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca foram vistos ou conhecidos na realidade; pois a forma como vivemos está tão distante de como deveríamos viver, que aquele que abandona o que é feito em favor do que deveria ser feito, aprenderá mais a provocar sua ruína do que sua preservação.
Niccolò Machiavelli, O Príncipe, Florença: 1514, Capítulo XV.
Niccolò Machiavelli provavelmente teria considerado as reformas políticas na Atenas antiga como uma tentativa notavelmente determinada de transformar o aparentemente impossível em prática política. Embora o modelo ateniense não representasse uma ordem perfeita, criou um novo quadro para a ação política que, a longo prazo, lançou as bases para sistemas democráticos posteriores. A ruptura histórica com estruturas autocráticas e oligárquicas foi fundamental – e notável em sua radicalidade.
Do ponto de vista machiavélico, essa mudança não seria interpretada como idealismo, mas como uma expressão de sabedoria consciente do poder. Pois o realismo político de Machiavelli não mira no cinismo, mas na análise sóbria das relações de poder existentes. Em Il Principe ele escreve, aqui traduzido em palavras simples:
“Como vivemos está tão distante de como deveríamos viver, que aquele que abandona o que é feito em favor do que deveria ser feito, aprende mais a provocar sua ruína do que sua preservação.”
O olhar para o dado histórico substitui, em seu pensamento, a orientação por estados morais ideais. A ação política deve, portanto, se orientar pela realidade e não por imagens normativas desejadas.
É justamente nesse contexto que se pode traçar uma ponte crítica para o presente. A atividade política atual em nossa democracia muitas vezes se move dentro de um status quo gerido, no qual reformas estruturais são evitadas ou postergadas por muito tempo. O realismo político aqui não é aplicado analiticamente, mas instrumentalizado como pretexto: não porque o ótimo político seja inatingível, mas porque alcançá-lo é desconfortável, ele raramente é buscado. A população é, consciente ou inconscientemente, integrada a um sistema de passividade política que freia processos transformadores.
A democracia não é, porém, um estado, mas um processo que requer desenvolvimento contínuo. A democracia ateniense do século VI a.C. foi o resultado de uma construção política consciente: uma sequência de passos reformistas implementados com firmeza contra interesses de poder existentes. Ela não era perfeita – exclusão, desigualdade social e instituições instáveis marcaram o sistema. Mas representou uma mudança profunda: as pessoas questionaram as ordens estabelecidas e realizaram alternativas políticas.
Justamente esse ponto de partida – a decisão consciente por um novo começo – é um elemento central do desenvolvimento democrático. Uma democracia funcional não surge automaticamente por estruturas formais ou eleições periódicas. Ela exige participação ativa, disposição para assumir responsabilidades e a capacidade de questionar criticamente o que existe. A construção de uma sociedade mais justa e inclusiva pressupõe que cidadãs e cidadãos sejam não apenas sujeitos de direito, mas atores políticos.
A mudança não é um fenômeno natural – é resultado da vontade política. Quem busca seriamente uma democracia sustentável não pode se contentar com o possível, mas deve exigir o necessário – mesmo que isso gere resistência. Nesse sentido, o espírito das reformas atenienses permanece atual: a democracia nasce onde a coragem para construir é maior do que o medo de perder privilégios existentes. Participe e vamos juntos alcançar o objetivo do projeto!
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