7. outubro 2025

O povo brasileiro tem produzido seu próprio castigo

Ao longo da história, o Brasil tem vivido ciclos de esperança e frustração, avanços e retrocessos. Mais do que forças externas ou destinos traçados, é a atuação de cada cidadão, aliada às escolhas dos líderes, que tem moldado o rumo do país. Infelizmente, muitos dos problemas que enfrentamos hoje — corrupção, desigualdade, falta de justiça — são consequências diretas das decisões e omissões do próprio povo brasileiro. Neste cenário, não é exagero afirmar que temos produzido o nosso próprio castigo divino, ao permitir que interesses pessoais e práticas injustas minem o futuro coletivo. O projeto Brasil no Século 21 busca refletir sobre essa realidade e provocar um despertar para a responsabilidade que cada um carrega na transformação do Brasil.

Combater a corrupção não é apenas uma escolha ética — é a condição indispensável e inegociável para reconstruir a cultura política do Brasil. É preciso resgatar o verdadeiro sentido de Ordem e Progresso, lema que inspirou muitos brasileiros que acreditaram na promessa de um país justo, moderno e socialmente desenvolvido. Esses brasileiros aceitaram a instauração da República, imposta por um grupo elitista insatisfeito com a Monarquia, que se revelou um golpe disfarçado, usado para legitimar privilégios em meio a uma crise que, mais uma vez, penalizou apenas o povo. Desde 1889, essa falsa promessa trouxe ao Brasil mais desgraças do que ordem e progresso.

Mais de um século depois, parte expressiva da riqueza privada no Brasil ainda se sustenta em estruturas de privilégio, alimentadas por um sistema político que, ao longo do tempo, permitiu — e até legalizou — práticas de autopromoção e favorecimento. Líderes dos três poderes, muitas vezes, serviram-se do aparato jurídico não para servir ao povo, mas para legitimar comportamentos contrários ao interesse público.

O povo brasileiro tem produzido o próprio castigo. Enquanto a maioria sofre com os resultados desastrosos de políticas mal conduzidas, os altos escalões dos três poderes seguem blindados, protegendo seus privilégios e transformando o Estado em um instrumento de autopreservação.

Isso precisa mudar. E essa mudança começa com cada cidadão, com cada escolha, com cada voto consciente.

Afinal, será que o Deus das elites apoiadores desse sistema é mais forte do que o Deus do povo? Ou somos nós que, ao não agir, entregamos o país nas mãos de quem só pensa em si?

Deus não precisa de bajulação. Ele não é um imperador que atende apenas aqueles que seguem à risca um livro de mandamentos, nem está sedento por adoração. A única forma justa de adorá-Lo é por meio da celebração da virtude. Se O concebemos como uma divindade justa e sábia, compreenderemos que o que Ele realmente espera de nós é a fidelidade à justiça, o respeito à dignidade humana e o compromisso com a preservação da vida.

Deus não carece de bajulação. A divindade, se verdadeiramente sábia e justa, não pode ser reduzida à figura de um déspota que recompensa obediência cega a mandamentos escritos, nem a um ser carente de louvor. A adoração autêntica, portanto, não está no rito, mas na prática da virtude. Se concebemos Deus como expressão suprema da justiça e da sabedoria, então é razoável supor que o que d’Ele se espera não são gestos exteriores de reverência, mas uma existência comprometida com o justo, com o respeito à dignidade de cada ser humano e com o zelo pela continuidade e integridade da vida.

Nem mesmo Deus pode auxiliar um povo que se recusa a utilizar a razão que recebeu para desenvolver os potenciais do solo onde nasceu. A inteligência humana — dom inegável — exige responsabilidade. Quando negligenciada, transforma-se em cumplicidade com o atraso.

Talvez Deus não esteja ausente — mas sim profundamente decepcionado. Não pela ausência de fé, mas pelo desprezo àquilo que verdadeiramente nos define como humanos: a capacidade de exercer a razão criadora para reconfigurar a existência, não em função do ego, mas em comunhão solidária com os demais e em reverência ao equilíbrio do mundo natural.

Desde 1889, o Brasil vem sendo sistematicamente sugado e maltratado por lideranças dos três poderes, com o apoio de elites que se beneficiam de um sistema que perpetua privilégios e sufoca o progresso coletivo.

Fomos abençoados com riquezas naturais, vasto território, diversidade cultural, criatividade e força de trabalho. Mas permitimos que uma elite político-institucional capturasse os frutos desse imenso potencial em benefício próprio, enquanto milhões de brasileiros — como se não fossem filhos do mesmo Deus — padecem sob os efeitos de um sistema perverso que mantém o país acorrentado ao subdesenvolvimento humano e democrático.

Em uma democracia, prevalece a vontade da maioria. E, se queremos uma mudança real, ela começa com a nossa responsabilidade individual e coletiva. Precisamos reconhecer nossa parte no que está acontecendo e, a partir disso, agir.

Se fizermos isso — com consciência, sem bajulações religiosas ou rituais vazios — Deus nos ajudará. Porque o que ativa as forças divinas não é o culto, mas a ação justa. São as atitudes que tomamos em favor do bem comum e da preservação do nosso ecossistema que fazem as energias divinas se manifestarem em nós e através de nós.

Deus não age fora do ser humano. Ele opera exclusivamente por meio de uma inteligência desperta, lúcida, voltada para a justiça, a compaixão e o bem coletivo. Uma fé que não se traduz em ação em prol do desenvolvimento de soluções que promovam o bem-estar coletivo, justiça, respeito à dignidade humana e compromisso com a preservação da vida é apenas autoengano.

Virtudes moral, intelectual e profissional são os pilares essenciais para o novo Brasil que queremos construir.

É por meio da inteligência desenvolvida que somos capazes de agir com virtude — e, assim, nos conectar com Deus, entendendo Deus não como uma entidade distante, mas como a manifestação da justiça, da razão e do bem-estar coletivo.

Dentro do Estado democrático, a virtude é a única verdadeira capacitação para gerar resultados que fortalecem a vida humana, preservam o ecossistema e nos aproximam dessa conexão maior.

O Estado é a fonte de onde todos devemos extrair inspiração para agir — tanto individual quanto coletivamente — e construir um país mais justo, ético e sustentável. Por isso mesmo, o estado precisa ser conduzido por homens de virtude. Esta responsabilidade está em nossas mãos, as verdadeiras mãos de Deus.